Formado por volta de 1966 em plena San Francisco psicodélica, o Blue Cheer (nome de um tipo poderosíssimo de LSD) contava com o baixista/vocalista Dickie Peterson (egresso de uma banda obscura chamada Oxford Circle), o guitarrista Leigh Stevens e o baterista Paul Whaley. Eram gerenciados por um tal de Gut, que foi um dos fundadores dos Hell's Angels - e não por acaso, o trio se tornou a banda predileta da violenta gangue de motoqueiros.
Eles já entraram arrebentando na alucinada cena musical vigente em 1968 com o álbum de estreia, Vincebus Eruptum. O petardo era aberto com uma das marcas registradas do grupo: a versão absolutamente detonante de "Summertime Blues", hit do rock'n 'roller Eddie Cochran. Só que eles transformaram o rockabilly original no som mais pesado e ensandecido feito até então. O disco seguia com "Rock Me Baby", de B.B.King, em uma cover que levava às últimas consequências a eletrificação do blues urbano.
As três canções do grupo presentes no disco - todas compostas por Peterson - também não deixavam por menos. "Doctor Please" sugeria que o cantor necessitava de ajuda médica para suportar as divagações lisérgicas, tamanha a demência sonora de seus quase nove minutos. "Out of Focus" mostrava o lado mais pop da banda com um riff pegajoso permeando a música toda, enquanto a brutalidade musical retornava em "Second Time Around", com andamentos disformes, paradas bruscas e solos extensos - bem antes que isso se tornasse lugar comum e puro exibicionismo através das décadas seguintes.
Após muito ácido Iisérgico e incontáveis garrafas diárias de destilados, Stevens afinal foi substituído pelo guitarrista do Other Half, Randy Holden. Posteriormente, Peterson mudou toda a formação e incluiu teclados ao som do grupo.
Assim, de forma paradoxal, enquanto os tempos iam se tornando mais metálicos, a sonoridade do Blue Cheer ficava cada vez mais amena e rebuscada, até se esgotar em 1970. Houve algumas tentativas de revival, sem maiores resultados, mas o grupo deixou sua marca sonora nua e crua no rock'n'roll. Distante do virtuosismo de um Jimi Hendrix ou de um Cream, o trio era odiado pela crítica por sua incompetência técnica, sendo que justamente naqueles três acordes com resoluções inusitadas que residiam seus maiores méritos e o charme da música deles.
Pioneiros no crossover punk metal, Peterson & cia desbravaram os caminhos para formações como The Stooges e MC5 e foram tudo aquilo que a turma de Seattle, neo-hippies e afins tentaram ser, mas nunca conseguiram.
Texto: Sérgio Barbo, Bizz#108, julho de 1994
1. Summertime Blues
2. Rock Me Baby
3. Doctor Please
4. Out Of Focus
5. Parchment Farm
6. Second Time Around
Dickie Peterson - Vocais, baixo
Paul Whaley - Bateria
Leigh Stephens - Guitarra
ou
Nenhum comentário:
Postar um comentário